Zygmunt Bauman morre aos 91 anos

10 de janeiro de 2017

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman morreu nesta segunda-feira, 9, aos 91 anos. Ele vivia em Leeds, na Inglaterra, há décadas, e foi o criador do conceito “modernidade líquida”. A informação foi divulgada pelo jornal polonês Gazeta Wyborzca.

Bauman foi um dos intelectuais-chave do século 20 e se manteve ativo até os seus últimos dias.

Ele nasceu na Polônia em 1925, e quando criança teve que fugir com a família por conta do nazismo. Em seguida, ele foi também exilado da União Soviética, expulso pelo Partido Comunista, em um episódio marcado pelo antisemitismo envolvendo conflitos em Israel. Ele se mudou para Tel Aviv e mais tarde se instalou na Universidade de Leeds, na Inglaterra, onde trabalhou durante a maior parte da sua carreira. Foi conhecido por ser um dos mais importantes intelectuais anticapitalistas do mundo.

Sua obra, que ganhou proeminência nos anos 1960, foi reconhecida com diversos prêmios, entre eles o Príncipe de Asturias de comunicação e humanidades, em 2010. O conceito de “modernidade líquida” fala da “liquidez” das relações sociais na modernidade e pós-modernidade, em que as relações amorosas deixam de ter um aspecto de união e passam a ser um acúmulo de experiências.

Obra de Bauman nos obriga a reconhecer nossa incapacidade de construir um mundo melhor

Segundo a professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Miriam Adelman, Bauman foi um sociólogo importante no debate do caráter da modernidade e pós-modernidade: “Ele é um pensador filosófico-sociológico muito profundo, que nos obriga a olhar para nós mesmos e reconhecermos nossa incapacidade de construir um mundo melhor”, diz. Ao mesmo tempo, Bauman, diz Miriam, pode ser contestado. “Da perspectiva feminista podemos dizer que ele é um pouco saudosista”, afirma.

“Bauman é um intelectual que pertence a uma longa tradição de pensadores de origem judaica. Ter passado pela experiência do holocausto evidentemente influencia seu pensamento e cria uma urgência no sentido de entender o que haveria depois do holocausto”, diz.

Professora de arte moderna do Colégio Medianeira e doutora em Educação, Ana Paula Luz cursou parte de seu doutorado na Universidade de Leeds, na Inglaterra, onde estudou no departamento de Sociologia Líquida, em que Bauman foi o professor-titular até sua morte. “A sociologia líquida é baseada em três pilares: a família, o estado e a religião, instituições que a sociedade tem como sólidas, mas que vão se fazendo líquidas na pós-modernidade”, explica.

Para ela, a morte de Bauman não deixa exatamente uma lacuna, pois seus seguidores em Leeds devem continuar seu o trabalho iniciado pelo sociólogo: “Bauman apresentou pontos muito importantes sobre o que seria a vida líquida. O que fazer com ela é o legado que as pessoas vão estudar daqui em diante. Agora deve vir à luz toda a importância da sua obra”, diz.

No Brasil, sua obra era amplamente publicada pela Editora Zahar, que antes da notícia já planejava para janeiro publicar um novo livro, Estranhos À Nossa Porta, uma reflexão sobre a crise migratória na Europa. Segundo a editora, Bauman analisa neste livro as origens, os contornos e o impacto desse “pânico moral” que os refugiados despertam em algumas pessoas.

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