Sepultura celebra 30 anos com show em Curitiba
16 de dezembro de 2016
O Sepultura faz show em Curitiba nesta sexta-feira (16), no palco do Trésor Eventos. A apresentação integra a turnê de 30 anos do conjunto que nasceu em Minas Gerais, migrou para São Paulo e tornou-se, ao longo das três décadas, o nome da música brasileira de maior projeção internacional da história.
A bossa nova de Tom Jobim? O rock experimental dos Mutantes? O romantismo de Roberto Carlos? Esqueça. Nada disso correu o mundo como o metal com identidade brasileira do Sepultura.
A banda conquistou fãs pelos Estados Unidos e Europa e realizou shows para dezenas de milhares de pessoas em locais que outras estrelas jamais pisaram. Passou pela Índia, Indonésia, Estônia, Letônia, só para citar alguns destinos incomuns, e em 2008 tocou para 50 mil em Cuba.
Há anos sem seus dois fundadores – Max Cavalera saiu em 1996 e Igor dez anos depois –, o Sepultura continua em frente liderado pelo guitarrista Andreas Kisser. Da formação clássica, segue também o baixista Paulo Jr, enquanto Derrick Green é o vocalista e Eloy Casagrande o baterista.
Segundo informações do livro “Relentless – 30 anos de Sepultura”, de Jason Korolenko, lançado este ano pela editoria Benvirá, aqueça para o show com 19 curiosidades, passagens e desmentidos sobre a lendária banda.
1) Filhinhos de papai
Quando moleques, Max e Igor poderiam ser considerados como dois filhinhos de papai, daqueles de fazer metaleiro babar de ódio. Filhos de um membro da Embaixada da Itália no Brasil, Graziano Cavalera, e de uma ex-modelo, Vânia, os irmãos moravam em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. A morte do pai, entretanto, em 1979, encerrou os tempos de leite com pêra e a família partiu mais tarde para Belo Horizonte, onde passou a viver uma rotina modesta.
2) Fã de samba
O show do Queen, em 1981, empurrou os irmãos Cavalera para o rock. Até então, Igor era fã de samba. Eis que, diante do conjunto do bigodudo Freddie Mercury, tudo mudou. Ao assistir o baterista Roger Taylor, Igor pirou na levada do rock.
3) Tropa de Choque
O Sepultura por pouco não adotou o nome de Tropa de Choque. Só não escolheu a alcunha porque outra banda de Belo Horizonte já tinha assumido a péssima ideia. O nome que consagrou os mineiros surgiu por causa da música “Dancing on your grave” (“Dançando em sua sepultura”, em tradução livre do inglês), do Motörhead, um dos conjuntos prediletos dos irmãos Cavalera.
4) Ensaios na igreja
Já fãs de Black Metal, de bandas como Venom e Hellhammer, famosas pelos temas “ocultistas” e as maquiagens no estilo panda, o Sepultura ensaiava, curiosamente, numa casa que era propriedade de uma igreja. Imóvel emprestado pelo pai de Roberto Gato Raffan, guitarrista da banda, que era pastor (o pai, não o guitarrista, que aí já seria contradição demais).
5) Kiss como referência
Paulo Jr., um dos remanescentes da formação clássica, era conhecido nos primórdios como Paulinho Kiss, por causa da adoração pela banda americana e uma cabeleira no estilo do guitarrista Paul Stanley, um lance poodle com laquê. Apesar disso, Paulo entrou para o Sepultura não pelo visual, mas porque era dono de um belo baixo Giannini Stratosonic.
6) Ópera proibida
As primeiras prensagens de “Morbid Visions”, disco de estreia do Sepultura, de 1986, foram recolhidas às pressas porque continham um trecho da ópera “Carmina Burana”, clichêzaço do mundo do metal. O problema ocorreu porque, digamos, ninguém tinha se ligado de pedir a cessão dos direitos autorais.
7) Fora da escola
Vânia Cavalera, a mãe de Max e Igor, teve papel decisivo para o desenvolvimento do Sepultura. Disse aos dois o que todo mundo moleque cabeludo já sonhou escutar um dia. Para que ambos deixassem de lado os estudos e se dedicassem ao grupo.
8) Drogas, não
Longe da escola e dedicados ao universo altamente educativo do metal, era de se imaginar que Max e Igor vivessem cercados de depravação, álcool e drogas. Que nada. Na casa da dupla só era permitido refrigerante e passatempo, além da música, era jogo de tabuleiro.
9) Momento de fraqueza
Mesmo com anos de estrada, Paulo Jr. não conseguiu gravar as linhas de baixo de “Beneath de Remains” (1989) e “Arise” (1991), os álbuns que alçaram o Sepultura ao sucesso. O motivo: não ficou muito à vontade no estúdio (em outras palavras, arregou). O guitarrista Andreas Kisser tocou o instrumento, com todo o respeito ao colega, nos dois discos.
10) Arte controversa
A capa de “Beneath the Ramains” seria outra, um desenho que acabou utilizado em “Cause of Death”, do Obituary, banda de death metal da Flórida. Monte Conner, da Roadrunner, gravadora dos dois grupos, ofereceu a arte de H.P. Lovecraft para os dois conjuntos e, ao menos uma vez, os americanos foram mais malandros. Max tem outra versão: o Obituary afanou mesmo a ideia.
11) Testes no Metallica
Em 1992, após James Hetfield ter sido atingido por fogos de artifício num acidente de palco, Andreas Kisser fez testes para assumir a guitarra do matador de ursos e líder do Metallica. O brasileiro impressionou na execução do material pesado dos americanos, entretanto, vacilou logo nas baladonas “Nothing Else Matters” e “The Unforgiven”.
12) Ratos e Manhattan
A música “Ratamahatta”, do álbum “Roots” (1996), marcou a parceria sui generis do Sepultura com o cantor e percussionista Carlinhos Brown. O nome da faixa, ideia de Brown, tem uma explicação curiosa, como tudo que parte da mente singular do artista baiano: é a mistura de ratos e Manhattan.
13) Inspirado por Babenco
A parceria do Sepultura com os índios Xavantes, mais um elemento que “abrasileirou” definitivamente o metal da banda, foi inspirada pelo filme “Brincando nos campos do Senhor”, de 1991. A obra de Hector Babenco (que morreu em julho deste ano) trata da civilização imposta pelos homens brancos e como o processo detonou uma série de danos aos indígenas. Max assistiu e sugeriu a ideia.
14) O começo do fim
A longa e traumática separação do Sepultura teve uma passagem crucial em 14 de novembro de 1996, num show em Buenos Aires. Após uma apresentação intensa, marca do grupo, Igor, Andreas e Paulo intimaram Max sobre os problemas com a empresária Gloria, esposa do vocalista. No entanto, com o sucesso comercial de “Roots”, a banda seguiu em frente com um clima péssimo.
15) Apresentação derradeira
O fim da formação clássica do conjunto ocorreu um mês depois, em 16 de dezembro de 1996, exatamente na data que o contrato com Gloria expirou. No Brixton Academy, em Londres, Max fez seu último show com Igor, Andreas e Paulo. O trio apresentou uma carta que encerrava oficialmente o contrato com a empresária, para que o vínculo não fosse renovado automaticamente. Max não quis nem saber e não participou da reunião. Anos depois, em 2002, para faturar um troco, a gravadora Roadrunner lançou em disco a apresentação derradeira, sob o nome “Under a Pale Grey Sky”.
16) Nem por US$ 1 milhão
O retorno da formação original, com Max, Igor, Andreas e Paulo, é um fantasma que assombra o Sepultura sem parar. Em 2000 circulou o rumor de que Sharon Osbourne, a esposa do tiozinho da série “The Osbournes” e vocalista do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, teria oferecido US$ 1 milhão para que isso acontecesse no palco da Ozzfest. Não passou de lorota.
17) Capa valiosa
O disco “Nation” (2001), o segundo com o americano Derrick Green no lugar de Max nos vocais, teve a arte de capa produzida por Shepard Fairey. Anos depois, o americano ficaria famoso pela criação do icônico cartaz de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, vermelho, branco e azul com a palavra HOPE.
18) Efeito “Yoko Ono”
O Sepultura é uma banda que nunca teve medo do chamado “Efeito Yoko Ono”. Após Max ter saído da banda porque os demais integrantes não aceitavam como empresária sua esposa, Gloria, o grupo adotou mais tarde Monika, esposa de Igor, como agente. Anos depois, Igor deixou o grupo, entre outros motivos, desconfortável pela presença de Monika, então sua ex-esposa, como empresária.
19) O adeus de Igor
A saída de Igor, em 2006, marcou uma nova era para o Sepultura, sem os dois irmãos fundadores. Cansado das turnês, Igor já havia pedido um “tempo”, período em que foi substituído por Roy Mayorga, que já havia tocado com Max no Soulfly. Eis que o americano precisou deixar o grupo e Jean Dolabella assumiu as baquetas. Tratado por alguns veículos como o “novo baterista do Sepultura”, foi o que bastou para Igor decidir sair de vez.