MON ganha do MASP e recebe uma das mais importantes coleções asiáticas do mundo

21 de março de 2018

Foto: Divulgação

Em um lance que envolveu competência e sorte, o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, passou a ser a casa de uma das mais importantes coleções de arte asiática da América do Sul. As peças foram doadas pelo diplomata Fausto Godoy, após análise do espaço e das condições de exibição – o estabelecimento se comprometeu a manter uma sala permanente aberta ao público. Mas o acordo só foi possível, porém, graças a problemas em um contrato firmado em 2011 por Godoy e o Museu de Arte de São Paulo (Masp).

O museu paulista tinha sido escolhido por Godoy para receber sua coleção, formada durante 16 anos de trabalho no Oriente. Em comodato, cedeu cerca de 2 mil peças – na época, a imprensa nacional destacou que isso colocava o Masp no mesmo patamar que o Metropolitan, de Nova York. Entretanto, a troca no comando da instituição em 2014 minou o acordo feito anteriormente, em que previa remuneração a Godoy pelo cargo de curadoria e local privilegiado para exibição. A construção de uma sala própria nunca saiu do papel. Enquanto isso, peças asiáticas armazenadas no subsolo do museu entre 2013 e 2015 sofreram danos, comprovados em laudos do próprio Masp e revelados pela Folha de S. Paulo.

Na época, o Masp ainda demonstrava interesse em exibir a coleção. Com o litígio, o contrato de comodato foi anulado e Godoy passou a procurar uma nova casa para a preciosa coleção. Segundo Juliana Vosnika, diretora-presidente do MON, a coleção estava sendo disputada por instituições do Brasil e do exterior, além de colecionadores particulares. O interesse do MON era grande, uma forma de colocar em prática a nova linha curatorial definida pelo conselho cultural da instituição: abrir espaço para as artes asiática, africana e latino-americana, “em consonância com os grandes museus do mundo”.

O MON, via assessoria de imprensa, explicou que a negociação sobre a doação do acervo de Fausto Godoy ao museu iniciou-se há dois anos. Ao longo desse período o diplomata fez algumas visitas ao museu, para analisar, avaliar e se certificar das boas condições do espaço para abrigar uma coleção desse porte. “Após criteriosa avaliação, ele decidiu-se pela doação ao Museu Oscar Niemeyer. O contrato de doação não prevê nenhum cargo dentro do museu ou pagamento ao diplomata. A única condição para a permanência do acervo no MON é uma sala expositiva permanente”, diz a instituição. “O mandato da atual diretoria do Museu Oscar Niemeyer segue até junho de 2019, e não existe razão para que o MON venha a perder as obras”, acrescenta nota enviada à reportagem.

Origens

Godoy inciou a coleção em 1984, quando foi trabalhar na Embaixada do Brasil em Nova Délhi, na Índia. Nessa chegada já se sentiu tão impactado que decidiu “se jogar” no país. Além da Índia, ele atuou em outros dez países no Oriente: China, Japão, Paquistão, Afeganistão, Vietnã, Taiwan, Iraque, Bangladesh, Cazaquistão e Myanmar. Ele tomou como missão trazer a Ásia para o Brasil. “Projeto extremamente ambicioso, e certamente superior às minhas forças e habilidades, mas fundamental, a meu ver, na medida em que o continente se afirma como o principal motor da geoeconomia e, quase por consequência, da geopolítica deste século”, conta, no material informativo da exposição “Ásia: a Terra, os Homens, os Deuses” do MON.

A doação ao MON totaliza cerca de 3 mil peças, das quais 200 estão em exposição atualmente, que conta com a parceria da Itaipu. O curador, Teixeira Coelho, explica que há dois princípios que norteiam a exibição atual: o gesto e o detalhe. O primeiro se refere tanto ao gestual do corpo quanto o invisível, aquele que está implícito na confecção de tecidos à mão, no entalhe de cadeiras ou nas caligrafias japonesas, por exemplo. O segundo marcador é o detalhe, que só pode ser bem apreciado com o olhar apurado sobre cada obra.

Entre as peças exibidas, destaque para o Cavalo, um objeto tumular da China (entre o séc. 2 a.C e 2 d.C); Nat (guardião), do século 20; o Vaso da dinastia Qing (do período 1711-1799) e uma xilogravura de 1837 do Japão, “Vista do banco de areia de Ama no Hashidate, Lugares famosos de nosso país”. Para Godoy, os brasileiros precisam de um “banho de universalismo”, que alargue o horizonte para além do Ocidente reconhecido. “Refaçamos a rota dos navegadores!”

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