FESTIVAL SÃO PAULO TRIP TEM PRIMEIRA NOITE HISTÓRICA

26 de setembro de 2017

Primeira apresentação do The Who no Brasil e The Cult “matador”, os donos da nforam brilharam em cena 

Por Carlos Eduardo Oliveira

Em sua abertura, o SÃO PAULO TRIP passou com louvor no principal teste que um megafestival de rock enfrenta: o som. Do primeiro acorde da primeira banda ao bis do The Who, a grande estrela da noite, o P.A. (sistema de som) funcionou à perfeição. Os horários dos shows foram cumpridos à risca, e a festa da quinta-feira à noite terminou pontualmente às 23:30 horas, facilitando para quem dependia de condução. O saldo? Uma noite histórica, com o The Who, enfim, pela primeira vez em palcos brasileiros, enlouquecendo seu séquito presente ao Allianz Park.  

>Alter Bridge:

Ainda sob a luz do dia, o quarteto americano entrou sob recepção efusiva de parte do então diminuto público, e justificou a expectativa com muita maturidade em cena. “Depois de treze anos, finalmente conseguimos vir tocar no Brasil”, quebrou o gelo o (bom) cantor Myles Kennedy, conhecido por aqui por vários shows ao lado de Slash, do Guns’N’Roses. Há um quê da urgência grunge no trabalho do quarteto, um metal alternativo livre de firulas ou clichês, expresso criativamente em alternância de levadas e tempos. Destaque para o baixista, um virtuose do instrumento. Olho neles. 

>The Cult:

Habituê de palcos brasileiros, o Cult talvez tenha mostrado seu melhor show em São Paulo até hoje – e olhe que o grupo inglês deu-se ao luxo de abrir mão de hits do calibre de, “Nirvana” e “Revolution”. Começando com dois petardos, “Wild Flower” e “Rain”, a megabanda comandada pelo cantor Ian Astubury e o guitar hero Billy Duff não deixou pedra sobre pedra. “Mas que p…?”, provocou brincando, a certa altura, o cantor, ante à apatia inicial do público maduro da noite, todo ele do The Who. “Isso é um show de rock, não uma biblioteca. Esse não é o Bra sil que conheço. Representem, p…”. E foi o que aconteceu. “Agora sim é o Brasil”, saldou Astbury, ainda cantando como em seus melhores dias. Nas seis cordas, Duffy, na melhor linhagem de mitos como o lendário Mick Ronson (falecido guitarrista de David Bowie), é um espetáculo à parte, com seu arsenal de guitarras Gibson – impressionante o que o cara toca. Destaque para o bom material de Hidden City, o novo álbum, presente através das ótimas “Dark Energy” e “Deeply Ordered Chaos”. “Essa é uma noite especial. Somos muito gratos ao The Who. Há muito tempo, dois garotos da classe operária, como nós, criaram uma banda que está aí até hoje”, saldou Astbury, antes da saideira com “Love Removal Machine” – com direito a citação de “L ove, Reign O’er Me”, do próprio Who. Um show demolidor. 

>The Who:

Após décadas de espera, finalmente era chegada a hora. Antes das luzes se apagarem, vídeos no telão contavam singularidades da trajetória do grupo e pedia aos presentes para não fumarem, “por cauda voz de Roger”. Pontualmente às 21:30 hs, estão em cena os ícones Pete Townshend e Roger Daltrey, ao lado de vários músicos de apoio (três teclados) – entre eles, Zac Starkey, o filho do beatle Ringo, na bateria. A fase “mod” ocupou toda a primeira parte, começando com “I Can’t Explain”, cantada a plenos pulmões, passando pelo hino “My Generation”, “The Seeker”, “I Can See for Miles”, “The Kids Are Allrght”. Curioso notar, Roger Daltrey aparentemente poupa a voz nessas canções teoricamente mais fáceis

“Who Are You”, ás do algum homônimo (1978), funciona maravilhosamente bem, assim como “You Better You Bet” e “Eminence Front”, esta em brilhante versão estendida. Já a belíssima balada “Behind Blue Eyes” marejou os olhos de muito marmanjo. De jeans e camisa social preta, Roger Daltrey praticamente não se comunicou com o público. Sua voz aparenta boa forma na segunda parte da apresentação, ainda alcançando notas altas, quando exigida.

Já Pete Townshend parecia em êxtase. “É nossa primeira vez na América do Sul, obrigado a todos”, disparou, entre um giro e outro do famoso “braço voador”, sua invenção no approach da guitarra. Com o som um pouco baixo, seu instrumento por vezes era abafado pelo time de tecladistas. A essa altura, extratos da ópera-rock Quadrophenia (1973), “I’m One”, “The Rock” e “Love Reign O’er Me”) deram a devida perspectiva de uma noite histórica. 

O que é confirmado, na sequência, com hinos de Tommy (1969), a mais famosa ópera-rock da história: “Amazing Journey”, “Pinbal Wizard”, “See Me, Feel Me”, ante o público em êxtase. O final com “Baba O’Riley” e “Won’t Get Fooled Again” lavam as milhares de almas presentes. Idem para o bis com “Substitute”. Histórico é pouco.

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