Encerramento COP 23
20 de novembro de 2017
Os negociadores do clima de quase 200 países da Cúpula do Clima da ONU (COP23) decidiram neste sábado se reunir em 2018 para avaliar suas reduções de emissões de gases de efeito estufa, ao final de uma conferência ofuscada pela anunciada retirada dos Estados Unidos.
A COP23 se prolongou até a madrugada deste sábado em Bonn devido às divergências sobre o financiamento da luta contra as mudança climáticas, o grande confronto histórico entre países ricos e os Estados em vias de desenvolvimento.
O objetivo principal dos quase 200 países, reunidos em Bonn durante duas semanas, era começar a redigir o regulamento do histórico Acordo de Paris para impedir que a temperatura do planeta aumente mais de 2ºC em relação à era pré-industrial.
Mas os países em desenvolvimento chegaram com uma demanda antiga: que todos os membros esclareçam seus compromissos de redução de gases de efeito estufa e, ainda mais importante, seus compromissos financeiros, até 2020.
Por fim, decidiu-se que o inventário das emissões e os planos de financiamento serão discutidos em 2018, na COP24, que será realizada em dezembro, em Katowice, Polônia, indicou a resolução final da COP23.
Um estudo divulgado nesta semana alertou que as emissões de gases de efeito estufa, as principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, voltaram a aumentar em 2017, 2%, depois de três anos de relativa estabilidade.
“Há muito nervosismo” por parte dos países industrializados, que não querem se comprometer com números e prazos, disse Alden Meyer, observador veterano da Union of Concerned Scientists.
“Esta decisão pressiona de forma imediata os países desenvolvidos para que aumentem sua ambição até 2020”, afirmou a rede Climate Action Network.
O trabalho complexo sobre o regulamento do Acordo de Paris, que define os critérios de controle mútuo de emissões e a transferência de tecnologia, entre outras coisas, foi apenas esboçado, com um rascunho que pode chegar a centenas de páginas.
Os negociadores já reconhecem abertamente que precisarão de no mínimo outra sessão para diminuir o texto, antes de dezembro de 2018.
Vigilância mútua
O maior emissor histórico de CO2 do mundo e um dos maiores financiadores da ajuda climática, Estados Unidos, ainda comparece às negociações, mas seu papel mudou totalmente desde que o presidente Donald Trump anunciou, em junho, que o Acordo de Paris prejudica os interesses nacionais americanos.
“A posição dos Estados Unidos influencia os outros países desenvolvidos, o que tem consequências para as posições que a maioria dos países em desenvolvimento adota. Todo o mundo se vigia mutuamente”, disse à AFP Seyni Nafo, um negociador do grupo de nações africanas.
Apesar de tudo, a delegação americana se comportou “de forma construtiva e neutra, sem perturbar” os trabalhos, afirmou a ministra alemã do Meio Ambiente, Barbara Hendricks.
Países industrializados e emergentes se esforçam para ocupar o lugar dos Estados Unidos. Cerca de 20 nações anunciaram esta semana uma aliança para eliminar o carvão como fonte energética nas próximas décadas.
O presidente francês, Emmanuel Macron, receberá líderes do mundo inteiro em 12 de dezembro em Paris para reafirmar o compromisso assumido dois anos atrás. Trump não foi convidado.
Os fundos não chegam
A COP23 de Bonn foi uma etapa intermediária da negociação.
As maiores dificuldades “são os métodos de implementação [do Acordo], não apenas o acesso a financiamento e recursos, mas a transferência de tecnologias e gestão de capacidades” para ajudar os países em desenvolvimento, explicou a chanceler do Equador, María Fernanda Espinosa, que representa o G77 e a China (134 países).
O Fundo Verde criado na COP de Cancún, em 2009, é um exemplo disso.
“Já se passaram oito anos, esperavam-se 100 bilhões de dólares anuais, e isso não aconteceu. O que há no cesto são seis bilhões”, criticou.
Após a entrada em vigor do Acordo de Paris, no ano passado, “esta foi a primeira COP para compartilhar ideias, para dar sentido a elas, embora não acho que tenhamos feito o suficiente em torno do regulamento”, explicou à AFP Mohamed Adow, da ONG Christian Aid.