Bullying: discussão nova de um problema antigo
12 de abril de 2018
Ana Beatriz Brandão se aproximou dos livros por causa do bullying e hoje é uma escritora de sucesso aos 18 anos
Por mais que, atualmente, o bullying seja discutido em todos os lugares, como nas telenovelas, rádios, jornais e internet, é fato que, no Brasil, esse fenômeno começou a ser pautado há pouco tempo. A psicanalista Ana Olmos conta que “em outros países, como a Noruega, já no primeiro suicídio houve uma convocação de todos que resultou em uma pesquisa imensa para a criação de políticas públicas, e isso faz mais de 60 anos”. Ou seja, no Brasil o bullying ainda é muito banalizado até mesmo pelo pouco tempo que é considerado realmente um problema. Porém, há pessoas que o usam como fonte de inspiração.
A escritora Ana Beatriz Brandão, autora da obra “A Garota das Sapatilhas Brancas”, foi uma das vítimas do bullying na escola. Ela tem apenas 18 anos e concluiu o ensino médio há pouco tempo. Ana sofreu com períodos de bullying ao longo de toda a sua vida escolar, e foi por causa das angústias vividas com os abusos que ela passou a se aproximar da literatura. Quando criança, começou a ler, como refúgio, durante os intervalos do colégio. Depois, mais velha, tinha amigos que praticavam bullying e, devido a isso, se afastou dos mesmos. Ao ajudar a vítima dos abusos dos “ex-amigos”, Ana passou a ser alvo de zombaria também, mas a autora amadureceu cedo e conseguiu contornar seu sofrimento de maneira inspiradora para outra pessoas, através de seus livros. Em suas histórias, Ana representa praticantes e vítimas deste fenômeno, com base nas suas experiências escolares.
A polêmica muitas vezes gira em torno dos limites entre brincadeira e abuso. Quando uma piada passa a ser bullying? Por que o colega se importou tanto com o que o outro disse, sendo que não foi “nada demais”? Essas questões são recorrentes nos pensamentos populares, mas o que muitas pessoas ainda não aprenderam é ter a capacidade de se colocar no lugar do outro e entender que a mesma palavra pode atingir outras pessoas em níveis diferentes. Cada um tem uma história de vida e atribui um peso para o que ouve. Isso permeia o conceito de empatia, outro ponto muito debatido também por estar em variadas lutas sociais, e que ainda não é um padrão na sociedade brasileira. Por isso problemas tão antigos, como o bullying, continuam existindo.
Clinicamente, na psicologia, o bullying se define como o abuso moral ou físico repetitivo, em que a intenção é de fato ferir a outra pessoa. É preciso existir um vínculo em que abusador e abusado contribuam para que o fato aconteça, mas isso não é tão simples quanto parece, já que existem diversos fatores envolvidos. Além do agressor e da vítima, a família, a escola e a própria sociedade são responsáveis pelo problema. A família, pelo exemplo, que pode apresentar às crianças tanto o perfil agressivo quanto o perfil submisso; a escola, por ainda não saber lidar de forma eficiente; e a sociedade, por pregar valores (na mídia e na publicidade, por exemplo) que excluem aqueles que não se encaixam nos padrões. Porém, mesmo que tenha chegado tarde no Brasil, a discussão sobre o assunto já é o primeiro passo para a solução.