Aerosmith: catarse em São Paulo

17 de outubro de 2016

Por Carlos Eduardo Oliveira, especial para a MUNDO LIVRE FM

Antes de tudo, cabe analisar: um supergrupo de rock que em duas horas de show se dá ao luxo de passar ao largo de hits como “Angel”, “Jane’s Got a Gun”, “Mama Kin” e “Jaded”, para citar alguns, tem muita confiança no próprio “taco”, e sabe que vai entregar o que se espera dele. Foi assim que o Aerosmith mesmerizou o público (45 mil pessoas) presente ao Allianz Park, em São Paulo, no último sábado. Com uma performance quase impecável, o quinteto de Boston, que ensaia aposentadoria para breve, mostrou que, se sair de cena, o fará ainda em grande estilo.

O jogo estava ganho logo de saída: a trinca de abertura com “Draw the Line”, “Love in a Elevator” e “Crying” se encarregou de elevar a temperatura do show à estratosfera. Com capa preta de paetês e calça branca com losangos coloridos, Steven Tyler brinca chamando a multidão com o intraduzível “crazy motherfuckers” e prova que, se não é exatamente um sex symbol, aos 68 anos ainda arranca histeria das moçoilas. Sem parar um minuto sequer, e sem desgrudar do pedestal do microfone (além dele, talvez só Rod Stewart saiba usá-lo com tal maestria em prol de sua misèncene), o cantor deu mostras de vitalidade vocal, sem derrapar mesmo nos agudos – ainda que o backing vocal do tecladista Buck Johnson estivesse com volume mais alto do que deveria, em contraste com a guitarra de Joe Perry, baixa demais, ao longo de todo o sho w. Mais contido que Tyler, Perry alterna-se entre diferentes modelos de guitarras Fender e Gibson Les Paul. Um dos últimos reais guitar heroes ainda na ativa, parece sentir os efeitos de recente “piripaque” durante show em Los Angeles de sua banda cover paralela, Hollywood Vampires.

Em “Crazy”, um momento tocante, documentado pelo telão: Tyler vai ao lado do palco, onde fãs posicionam-se numa espécie de “snake pit”, e canta o refrão junto com uma emocionada fã cadeirante – coisa linda. Ainda que as eficientes baladas radiofônicas arrasa-quarteirão (“Pink”, “Living on the Edge”,etc) pareçam ser o que a maioria que ouvir – e filmar com celulares, atual praga nos shows de arena –, o repertório esconde pérolas setentistas do quilate de “Kings and Queens” e “Rats in the Cellar”, que, apesar de praticamente desconhecidas do público, provam que o grupo dos “Toxic Twins” (apelido da dupla Tyler-Perry durante o período de abuso de drogas pesadas de ambos) ainda executa como poucos o bom e velho hard rock.

Um clipe mostrando Joe Perry, guitarra em punho, no famoso Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, em São Paulo, foi a deixa para o guitarrista mostrar sua raiz bluesy cantando “Stop Messin’ Around”, cover do Fleetwood Mac – antes, em “Rag Doll”, Perry já dera uma aula de steel guitar. Por falar em cover, talvez tenha sido a primeira vez que o Aerosmith mostrou aos brasileiros sua versão de “Como Togheter”, dos Beatles, gravada no famoso disco ao vivo “Live! Bootleg”, de 1978. “Walk This Way” encerra o setlist em clima de ebulição, antes do gran finale no bis, com “Dream On” e “Sweet Emotion”. Ano que vem, no Rock in Rio, tem mais, no que pode ser a última passagem de Tyler & cia. pelo Brasil a bordo do Aerosmith.

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