Jorge du Peixe fala sobre álbum de versões do Nação Zumbi
18 de dezembro de 2017
Quando o Nação Zumbi surgiu, nos anos 1990, surpreendeu o público por misturar um vasto caleidoscópio de influências sonoras, do hip-hop ao heavy metal, passando pela música brasileira de raiz. Chico Science, histórico líder do grupo, era conhecidamente um interessado em discos, novidades e raridades. “Antes de sermos músicos, éramos ouvintes quase doentios”, analisa o atual vocalista da banda, Jorge du Peixe.
A cultura, de acordo com du Peixe, era a de “ouvir música junto”. “Antes, era importante: você comprava um vinil, juntava todo mundo. Hoje é dia é mais pelo compartilhamento”, recorda. “Sempre fizemos seleta de [fita] cassete para amigos. Fazíamos capas de discos que não existem, de músicas que não existem. Até por isso sempre fizemos, em um show ou outro, alguma versão”. Recentemente, por exemplo, o Nação Zumbi tocou David Bowie em uma edição do festival Cultura Inglesa, e os integrantes também mantêm um projeto paralelo, o Los Sebozos Postizos, em que tocam músicas de Jorge Ben.
É exatamente devido ao “amor aos discos”, segundo du Peixe, que o Nação Zumbi encerra 2017 com Radiola NZ Vol.1, um álbum inteiro de versões, que ganha vida no palco do Sesc Pompeia, em São Paulo, entre esta sexta, 15, e domingo, 17. No trabalho, a banda pernambucana dá a própria interpretação para clássicos como “Ashes to Ashes”, de David Bowie, e “Refazenda”, de Gilberto Gil, além de pérolas como “Tomorrow Never Knows” (Beatles) e “Amor” (Secos & Molhados). A última delas, inclusive, é resultado de uma parceria com Ney Matogrosso que acabou rendendo um show no palco Sunset do último Rock in Rio.
De maneira prática, Radiola NZ Vol.1 foi surgindo e sendo gravado ao longo dos últimos meses, conforme a banda desenvolveu as versões próprias das faixas escolhidas. “Tudo muito natural, baseado na visão de cada um”, explica du Peixe. “Lúcio [Maia, guitarrista] vai fazendo um riff, Dengue coloca um baixo…” Algumas canções ganharam o peso dos clássicos tambores do Nação Zumbi (como “Balanço”, de Tim Maia, e “Refazenda”) e outras ficaram mais tranquilas, com foco na melodia, caso de “Sexual Healing”, de Marvin Gaye.
“Nunca faríamos uma versão pesada de ‘Sexual Healing’”, analisa o vocalista. “É aquilo: outra intenção. Se podemos ir para vários lugares, por que ir para um lugar só? Não tem tambor em todas, várias músicas pedem isso. ‘Refazenda’ ficou pesada pelo peso do tambor, o africanismo atrelado. Há uma cobrança do que a gente faz sempre ser pesado e nós queremos quebrar com esse protocolo. Sempre quisemos fazer [as coisas] da nossa maneira.”
A seleção de músicas passou desde os anos 1960 até a década de 1980, mas, para du Peixe, “não houve cobrança de fazer algo cronológico”. “Poderia ter rolado um James Blake”, ele sugere, referindo-se ao jovem músico britânico. “Foi tudo muito residual, o que a gente foi ouvindo e lembrando na hora. Só trouxemos [as sugestões] e fomos tocando. Tipo: ‘Essa é legal, vamos outra’.”
Obviamente, o “volume 1” no fim do nome de Radiola NZ, deixa em aberto a grande possibilidade de uma continuação – um outro álbum de versões –, mas, antes disso, os fãs da banda pernambucana esperam um LP de inéditas. O mais recente deles foi Nação Zumbi, de 2014, há mais de três anos. E a próxima obra completa do grupo pode ganhar vida no ano que vem – pelo menos é o que planejam os integrantes.
“Era necessário dar esse tempo maior para a feitura do [disco] autoral”, explica du Peixe, que pouco adianta do novo material do Nação Zumbi. “Você lida com muita coisa. É legal ter um tempo maior, mas [a produção do novo álbum] está muito no começo ainda. Tem que ter cuidado e critério. Hoje em dia é complicado escrever, gritar, contestar e trazer divertimento, então tem que ser cuidadoso em vários aspectos.”