Em fase ‘de boa’, Supla diz que canta para ter ‘orgulho de si mesmo’
29 de agosto de 2017
Embora seja amado pelos memes, Supla não é um cara das redes sociais. Quase tudo que publica é relacionado ao trabalho. Se fosse, porém, suas postagens mais recentes estariam cheias de #gratidão.
O cantor de 51 anos, um ícone do rock rebelde dos anos 80, mostrou muitas vezes em uma entrevista por telefone ao G1 que está em uma fase zen – “de boa”, como ele costuma repetir. “Sou muito agradecido por estar com a minha idade, vivendo do que amo, por poder estar tocando na América e tocar no Rock in Rio daqui a pouco”, reflete.
Em meio a uma série de apresentações nos Estados Unidos, ele se prepara para subir ao palco Sunset do festival no Rio com a banda Doctor Pheabes, em 24 de setembro. Até a participação na festa será “mais relax” dessa vez.
“Em 2015 toquei com meu irmão [João Suplicy, com quem forma a Brothers of Brazil] e chamamos o cara do Sex Pistols [o inglês Glen Matlock, que foi baixista da banda punk]. Esse ano não vai ter esse peso, essa coisa de fazer cerimônia para o convidado. É bom dar um alívio”, comemora o cantor, um veterano do festival. Ele tocou pela primeira vez em 1991.
Lição de Janis
Mais dedicado à carreira solo desde que lançou o disco “Diga o que você pensa” (2016), Supla já prepara um novo trabalho, previsto para o início de 2018. O disco terá músicas com versões em português e inglês. Ele costuma fazer traduções para shows fora do Brasil.
Compondo de forma frenética – os temas vão do comportamento social na internet ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) -, o cantor tem um objetivo em mente: cultivar a ambição de sentir “orgulho de si mesmo”, uma lição que aprendeu com Janis Joplin. Entenda na entrevista abaixo.
G1 – Você é quase um especialista em Rock in Rio, tocou pela primeira vez em 1991. Algo mudou de lá para cá?
Supla – Acho que não. A ideia do festival, desde o começo, sempre foi misturar vários tipos de música. O público vai para ver as coisas que estão afim de assistir. Muita coisa mudou no mundo de lá para cá, a internet mudou as coisas – para o bem ou para o mal, sei lá. Mas acho que o festival continua o mesmo.
G1 – Esse ano você vai tocar com a Doctor Pheabes. Já se encontraram? Como estão sendo as conversas?
Supla – Sim, já estamos com algumas músicas ensaiadas. Eles são uma banda de hard rock e [o show] vai ser uma celebração do rock mesmo. Fiquei muito contente. Esse ano eu não ia tocar. Em 2015 toquei com meu irmão [João Suplicy, com o Brothers of Brazil] e chamamos o cara do Sex Pistols [o inglês Glen Matlock, que foi baixista da banda]. Esse ano não vai ter esse peso, essa coisa de fazer cerimônia para o convidado, está mais relax. É bom dar um alívio. Eu sou super preocupado, quero que as pessoas se sintam bem.
G1 – Conhece a história da Doctor Pheabes?O G1 publicou uma reportagem sobre os integrantes: dois deles são fundadores da Prevent Senior, empresa que patrocina festivais nos quais a banda toca. O que acha disso?
Supla – O que eu posso falar sobre isso? Das vezes que eles tocaram em festivais, só vi uma e foram bem. Me pareceu tudo bem. Acho que é uma coisa que cabe a eles. Para mim, um convite para tocar é sempre uma honra. Esse ano eu já toquei em tudo quanto é lugar de São Paulo, todos os festivais de metal eu tô tocando. Para mim, tocar é sempre uma oportunidade. Então tá de boa.
G1 – Você já falou em entrevistas que chegou a pensar em seguir o caminho da política, como seus pais, mas desistiu. Por quê?
Supla – Eu já faço política na minha música. Já falo coisas para a galera pensar. E também para se divertir. Política não é só no Congresso, é assim que eu vejo. Já faço o meu trabalho.
Vou te falar uma coisa: dia desses eu estava vendo um documentário sobre a Janis Joplin e achei tão legal o que ela falou sobre ambição… Quando a gente pensa em ambição, sempre relaciona a algo negativo, a gente que passa por cima das pessoas. A Janis fala que ambição é quando você quer ter orgulho de si mesmo, não por querer mais dinheiro ou fama.
“Eu tenho essa ambição de querer ter orgulho de mim mesmo. A fama e a grana são consequências.”
Eu sou muito agradecido por estar com a minha idade, vivendo do que amo, e por poder estar tocando na América, tocar no Rock in Rio daqui a pouco… Não paro de compor, graças a Deus. As melodias vão entrando e as ideias também.
G1 – Como você vê o rock no Brasil? Há esperança ou só tem espaço pro sertanejo?
Supla – Para falar a verdade, não estou preocupado. Sinceramente, sertanejo, funk, qualquer música… Eu faço o meu trabalho e amo o que eu faço. Coisas bacanas acontecem comigo porque eu batalho pra caralho. Estou falando um monte, fazendo um som de qualidade, falando de coisa séria, coisa divertida… Estou dando o recado ainda. Não compete a mim ficar falando sobre o rock.
G1 – Mas você já criticou o sertanejo… Se te convidassem para uma parceria, aceitaria?
Supla – Não teria problema em uma participação. Posso cantar com qualquer estilo, super de boa. Eu colocaria a minha atitude na coisa. Mas você nunca vai me ver fazendo um som sertanejo, só porque está vendendo mais. Onde mais se lucra mesmo é na TV. Atores de TV ganham muito mais que músicos. Você acha que a Anitta ganha o mesmo que o Faustão?
“Poderia fazer programas de TV para ganhar dinheiro. Já tive várias oportunidades.”
Não é um dinheiro fácil também. As pessoas têm que ter talento para estar lá, não estou desmerecendo ninguém. Mas é um fato. Sempre fiz o que eu estava afim de fazer.
G1 – Ouve algo do rock atual brasileiro?
Supla – Agora não, apesar de ter certeza de que tem gente fazendo coisas boas.
G1 – Você é super popular na internet, mas quase não se expõe nas redes sociais. E já até falou sobre isso em suas músicas. O que acha da exibição virtual? Curte virar meme?
Supla – Prefiro me resguardar mesmo. Posto mais coisas de trabalho, mas acho legais [os memes]. Acho que [a superexposição] tira um pouco do mistério do artista. Não fico mostrando o carro que comprei, não preciso disso. Mas cada um faz o que quer. Eu tô bem de boa. Procuro focar no meu trabalho e me manter falando coisas importantes.
G1 – Você está no meio de uma série de apresentações nos Estados Unidos. Como são seus shows fora do Brasil? Faz mudanças no repertório?
Supla – Tem vários tipos de shows. O show no festival [Supla tocou no It’s Not Dead Fest, na Califórnia], por exemplo, terá meia hora. Vou tocar em inglês e só uma música em português, “Garota de Berlim”.
“A maioria das músicas eu transformo do português para o inglês. Meu próximo álbum vai ter as mesmas músicas em português e inglês. É um trabalho dobrado.”
G1 – E o público no exterior, como é? Quem você vê nas plateias?
Supla – Tem mais americanos. No fim de semana passado, estive em Nova York e tinha uma galera que conhecia minhas músicas, as músicas do Brothers [of Brazil]. Não fazia ideia disso, achei muito louco. Antes de formar o Brothers, toquei muito em Nova York. Hoje consigo tocar em festivais [americanos] por causa dos contatos que fiz. Agora voltando para os Estados Unidos para tocar, praticamente começando de novo. Então pra mim é tudo novo, de certa forma.