Foo Fighters fazem defesa do rock and roll no Maracanã
26 de fevereiro de 2018
Líder do Foo Fighters, Dave Grohl parece entender o momento que o Rock and Roll atravessa. E não é para menos: os sinais não são animadores – desaparecimento do estilo das paradas, queda vertiginosa da venda de guitarras, fábricas de instrumentos icônicas, como Gibson e Fender, à beira da falência, e um aparente desinteresse das gerações mais jovens por aquela que, talvez ao lado do jazz, tenha sido a vertente musical mais importante surgida no século XX.
Não por acaso, o show da banda na noite deste domingo (25), no Maracanã, foi marcado por momentos de afirmações e também de apelos sentimentais a quem ama o estilo.
Com uma pontualidade semelhante às das bandas inglesas – lembrando que os Foo Fighters são americanos até a raiz –, Grohl, Taylor Hawkins, Nate Mendel, Pat Smears, Chris Shiflett e Rami Jaffee subiram ao palco do estádio e abriram o show com “Run”, sucesso mais recente, primeiro single e segunda faixa do álbum “Concrete and Gold”, lançado em 2017. Aliás, há menos de um mês a composição deu ao grupo o Grammy na categoria “Melhor canção de Rock”.
A canção foi seguida por uma trinca vencedora e mais que conhecida do público: “All my life”, “Learn to fly” e “The pretender”. A essa altura, as 30 mil pessoas que estavam no Maracanã – dados da organização – já haviam transformado o estádio em um espaço de catarse coletiva.
Foi durante a execução de “The pretender” que Grohl se dirigiu ao público para estabelecer de forma a não deixar dúvidas do que se tratava o evento: “Que fique claro: isso aqui é um show de Rock, ok? E vocês gostam de Rock, não é? Gostam muito, certo?”. A resposta positiva em uníssono não deu margem para questionamentos – o Foo Fighters estava entre roqueiros fiéis.
Nesse momento, a banda retornou ao álbum mais recente, com “The sky is a neighborhood” – agora com o auxílio de três backing vocals. Na sequência, vieram uma versão estendida de “Rope”, de Wasting Light (2011), “Sunday rain”, na voz do baterista Taylor Hawkins, e “My hero”, clássico do grupo.
Houve espaço, ainda, para “Make it right”, outra canção recém-lançada – talvez por ainda ser bem pouco conhecida do público, ela marcou o momento de maior distanciamento entre a banda e a plateia.
Grohl leva a interpretação de algumas canções a extremos vocais. Portanto, é natural que, ao longo do show, haja momentos nos quais ele tenha que dar uma pausa de alguns minutos para que a garganta possa se recuperar. A primeira delas aconteceu quando o guitarrista Chris Shiflett assumiu o microfone para uma versão acelerada de “Under my wheels”, de Alice Cooper.
Chega, então, o momento de apresentar a banda ao público. É claro, deve-se imaginar que a maioria das pessoas que está ali conhece os integrantes do grupo – mas este é um protocolo tradicional do Rock.
Com uma rápida introdução da linha de baixo de “Another one bites the dust”, do Queen, Grohl apresenta Nate Mendel – os dois são os únicos integrantes presentes em todas as formações do Foo Fighters. É a primeira vez que uma parte conhecida do repertório da banda de Freddie Mercury será apresentada no show. Haverá outras duas.
Membro mais novo da banda – ele foi incorporado oficialmente em 2017, mas já acompanhava o grupo como músico contratado desde 2005 -, Rami Jaffee explorou uma sequência de acordes com ecos e reverberações. Grohl não perdeu a oportunidade para brincar com os sons elaborados pelo tecladista: “Isso que você tocou é bonito, mas nunca estará em uma canção do Foo Fighters”.
Ao ser apresentado, Pat Smear puxou rápido a sequência de acordes de “Blitzkrieg bop”, dos Ramones. A princípio, os Fighters pretendiam tocar apenas um trecho, mas diante da reação entusiasmada do público, a canção foi executada na íntegra. A exemplo de um evento punk, era possível ver rodas se abrindo no meio da plateia.
Logo depois, ocorreu um breve diálogo:
“Olhe para isso, Taylor. O que você acha disso tudo?”, questionou Grohl, enquanto apontava para o público.
“É o Rock in Rio”, respondeu o baterista.
“Para mim, isso aqui é o Rock in Rio”, finalizou Grohl. A plateia vibrou nesse instante.
Fazendo menção a um dos momentos mais marcantes da primeira edição do maior festival de música da cidade, Taylor Hawkins cantou, à capela, um trecho de “Love of my life”, do Queen. Logo em seguida, ele trocou de lugar com Grohl e entregou uma interpretação de “Under pressure”, outro clássico do Queen, este em parceria com David Bowie.
Encerrada a parte de covers – algo comum em shows do Foo Fighters –, a banda retornou com “Monkey wrench” e uma pegada quase que totalmente voz e guitarra para “Times like these”. Logo em seguida, uma versão explosiva de “Best of You” finalizou a primeira parte do show.
Os Fighters voltaram ao palco após um intervalo de cerca de 10 minutos para apresentar “This is a call”, hit e primeira faixa do primeiro álbum da banda, lançado em 1995.
Em seguida, a banda retomou os covers – desta vez, com “Let there be Rock”, hino lançado em 1977 pelo AC/DC. A escolha não parece ter sido aleatória. Canção que tem como o tema o próprio Rock and Roll, a música reforçou as palavras ditas por Grohl na parte inicial da apresentação – para a banda, era necessário deixar muito claro que aquele era um show de Rock.
O final catártico, como já se esperava, chegou com “Everlong” – talvez a composição mais marcante já feita pela banda.
Não se sabe o que acontecerá com o Rock daqui para frente – é improvável que morra, como alguns costumam vaticinar. É sabido que certos sentimentos são expressos de forma mais eficiente por meio de um baixo, uma guitarra distorcida e uma bateria.
Seja lá como for, o Foo Fighters parece preocupado com o tema – e a julgar pelo show apresentado no Maracanã, a banda está disposta a lutar para que o Rock tenha uma vida eterna.
Abertura eficiente
O Queens of the Stone Age resolveu voltar os ouvidos para 2013, ano de lançamento de “Like clockwork”. As canções daquele álbum ocupou boa parte do show da banda na noite de domingo no Maracanã – performance que precedeu a apresentação do Foo Fighters e que foi antecedida pela eficiente banda paulistana Ego Kill Talent.
Logo de cara, o Queens apresentou “If I had a tail”, “Smooth sailing” e “My god is the sun”. Foi o suficiente para animar o público que ainda entrava no Maracanã. Logo em seguida, foi a vez de privilegiar o recém-lançado álbum “Villains”, com “Feet don’t fail me” e “The way You used to do”.
Seguiram-se mais 11 canções – entre elas, sucessos como “No one knows” e “Go with the flow”, ambas do álbum “Songs for the deaf”, de 2002. Em todas, a feliz mistura de metal, hardo rock e elementos de psicoldelia e stoner rock que sempre caracterizou o som da banda.