PHILL COLLINS MOSTRA NO BRASIL A EVOLUÇÃO NATURAL DO ROCK PROGRESSIVO

23 de fevereiro de 2018

E em ótima companhia, com The Pretenders

Por Carlos Eduardo Oliveira

Quando o supergrupo de rock progressivo Genesis aportou por aqui para shows no no longínquo 1977, causou impacto a camiseta que o vocalista baixinho usava em cena: vermelha, com letras garrafais “PC” em branco – apologia ao partido comunista?, vaticinaram alguns. Bobagem: recém promovido ao centro do palco após a saída do vocalista Peter Gabriel, Phill Collins, membro fundador e até então baterista, tirava onda com seu primeiro momento na ribalta. Aliás, surpreendentemente, interagiu geral com o público dos shows brasileiros… em português.

Corte para 2018. Ainda sob os holofotes mais de quatro décadas depois, Collins está no Brasil novamente, dessa vez a bordo de uma respeitável carreira-solo. “Easy Lover”, “In the Air Tonight”, “Another Day in Paradise”, “One More Night”, “Sussudio”, são só alguns dos hits românticos, clássicos de FMs, que fizeram com que os ingressos praticamente esgotassem para as apresentações no Rio (Maracanã, ontem) e, agora, São Paulo (Allianz Park, neste sábado e domingo).

O show mostra também sucessos de seu ex-grupo. Na real: não é exagero afirmar que foi Collins quem salvou o Genesis, golpeado, assim como seus congêneres que davam as cartas do rock progressivo naquele momento (Yes, Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer, etc) pela eclosão do punk rock no final dos anos 70, início dos 80. Ao injetar pegada pop a uma banda com um passado de rock (quase) sinfônico, suas músicas e letras (“Follow You Follow Me”, “Mama”, “Invisible Touch”, “Turn in on Again”, “That’s All” e inúmeras outras) encontraram eco junto aos colegas de grupo, foram ganhando espaço e renovaram o público da banda, transformando o Genesis de cult a mainstream e sucesso comercial – até 2007, ano da separação, o grupo lotava estádios na Europa e EUA. Coincidência ou não, Yes e ELP tentaram o mesmo caminho, mas sem o mesmo sucesso.

Paralelamente a isso tudo, Phil Collins navegou na já citada bem sucedida carreira pessoal, cujo timing e sensibilidade perfeitos moldaram canções sempre no gosto do grande público. A lamentar apenas que seu lado de grande entertainer e exímio baterista esteja prejudicado atualmente: devido às sequelas físicas de uma lesão de vértebra do pescoço, ocorrida durante a última turnê com o Genesis, Collins agora tem dificuldades de locomoção e cantasentado em uma cadeira – nada, porém, que prejudique seu ótimo registro vocal.

Em tempo: na abertura de seus shows no Brasil, ninguém menos que The Pretenders. Quem? Bem, liderada pela guitarrista/compositora/cantora Chrissie Hynde, também fundadora do grupo, a banda ianque surgida nos 80’s foi um dos pilares do que se convencionaria chamar de “rock alternativo”. Com vários hits que estouraram igualmente em rádios brasileiras (“Back on the Chain Gang”, “Kid”, Message of Love”, Middle of the Road”, “Brass in Pocket”, etc), alguém já disse que, comparativamente, um único single dos Pretenders “vale por toda a trajetória do rock nacional”. Bem, é mais ou menos por aí. Sem contar que Chrissie Hynde já enterrou (por overdose) dois ex-integrantes, um deles, seu marido, o finado guitarrista James Honeyman-Scott. E continua na ativa aos 66 anos.

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